9 de ago. de 2012

Era uma vez: Cinquenta Tons de Cinza

Posted by Thaís Colacino On 22:11 0 comentários


Cinquenta Tons de Cinza é o livro do momento, sobre o qual todos estão curiosos e logo vai virar filme, para aumentar ainda mais a curiosidade de quem não ouviu sobre o que ele é. E sobre o que ele é? É uma fanfic de Crepúsculo que deu certo na internet, virou sensação, teve os nomes trocados e agora é um sucesso mundial pelo tema erótico.

No livro, acompanhamos Anastasia Steele (Bella Swan), uma universitária de 21 anos que adora literatura inglesa que é muito “inocente”, no sentido de ser virgem e praticamente mal ter beijado alguém. Ela nunca se interessou de fato por ninguém. Um dia ela vai entrevistar Christian Grey (Edward Cullen), uma vez que sua amiga jornalista, Kate, estava doente. Christian é um jovem que se formou na mesma universidade que ela, tem menos de 30 anos e tem um império empresarial que ele mesmo construiu. E é lindo, claro. Ana acaba caindo de quatro -literalmente- na frente dele . A entrevista vai até que bem, fora os olhares e expressões de Christian, que sugerem que ele quer algo mais. Ana é seduzida e acaba por descobrir que ele tem gostos bem peculiares e é maníaco por controle, além de ter um trauma antigo que faz com que ele evite laços amorosos.

Por ser inicialmente uma fanfic, vemos vários elementos de Crepúsculo por ali: o quase “estupro” de Ana, que é “salva” por Christian; ele dizendo que não é bom para ela; ela sendo quase atropelada (por uma bicicleta); os rapazes querendo sair com Ana, mas ela só se interessa por Christian; o jantar dos dois; a super proteção (perseguição) de Christian/Edward... Além dos elementos mais chatos: a constante mordida de lábios de Bella, que inicialmente parecia uma sacada da autora como forma de brincadeira, é usada em demasia no livro, que me pergunto como ela ainda tinha lábios no fim do livro.

Mas a característica mais irritante é de longe a descrição da beleza de todos (e como a personagem é baseada em Bella, com a baixa autoestima, todos os personagens são descritos como mais belos que ela), principalmente de Christian Grey: ele é lindo, tem boca esculpida, é lindo, é um Adônis, é lindo, a calça dele nos quadris, é lindo o cabelo acobreado; é lindo; os dedos são longos; é lindo... Agora pegue todos esses adjetivos (inclusive todos os lindos) e multiplique por seis (como diria Megamente) e chegamos próximo do que Ana descreve no livro.

E se Edward é o que podemos chamar de vampiro conservador, Christian é um Dominador conservador. A sala de jogos, chamada de Sala Vermelha da Dor por Ana, tem poucos elementos de fato sado masoquistas e o livro, eu gera curiosidade justamente por abordar tal tema, quase não o desenvolve. O que mais tem ali é o “sexo baunilha”, nas palavras do próprio personagem. O termo mom porn (pornô para mamães), utilizado para descrever o livro, é extremamente acurado.

A autora, E. L. James
O problema é que o livro é extremamente inverossímil, tanto quanto um vampiro secular que se apaixona por uma adolescente e repete o colegial infinitas vezes. Christian é um jovem de 28 anos que tem sua própria empresa, é bilionário, lindo, inteligente, gosta de música clássica, sabe tocar piano, pilotar, dança bem, é ótimo na cama e sempre faz Ana chegar ao orgasmo, tem o corpo perfeito, sabe o que dizer para fazê-la sentir-se confortável e adora enchê-la de presentes. Mas também é um maníaco por controle que praticamente a monitora e persegue e aparenta querer moldá-la de acordo com seus gostos pessoais.

Porém, nem tudo é ruim. O livro de fato é interessante e o personagem Grey tem uma construção que leva o leitor a querer descobrir mais e desvendar seu passado. O fim do livro pode até chegar a surpreender o leitor, uma vez que é uma trilogia.

Muitos criticam o livro se rebelando ao dizer que a fantasia das mulheres é ser dominada. Não é isso que o livro propõe. Grey tem preferências particulares, sim, mas não é esse o motivo do sucesso do livro. O ponto forte é de fato toda a curiosidade pelo conteúdo erótico (que não é muito e é narrado por Ana, que se foca mais nas sensações). Mas também pelo modo que Grey trata Ana. Sim, ele é um maluco que praticamente quer controlar tudo e a fica perseguindo, mas é um cara lindo, rico, sensual e supostamente inalcançável, que a trata com carinho e desejo, praticamente sem conseguir tirar as mãos de Ana, que faz loucuras por ela e tenta inclusive mudar o que a incomoda. Isso sem contar os constantes elogios, não só à beleza da garota, mas ao seu intelecto e gostos. Ele presta atenção nela, no que ela diz e quer e tenta atender esses desejos, mesmo que isso signifique abrir-se e ser vulnerável.

Por fim: o livro é bom? Não, é um guilty pleasure. É bem escrito? Também não, mas não sabemos se é por ter se inspirado em Crepúsculo ou pelo talento da autora. É interessante? Sim. Tem muito sexo? Moderado e não vai chocar ninguém. Tem vampiros? Não, sinto muito.

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