21 de abr. de 2012

Crítica: Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios

Posted by Aline Guevara On 16:40 0 comentários


Adaptado a partir do aclamado romance homônimo de Marçal Aquino, o filme Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios pode até ter um título estranho, mas é uma belíssima obra levada às telonas brasileiras pelos diretores Beto Brant e Renato Ciasca. Ganhador do prêmio de melhor filme de ficção brasileiro na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o longa foge dos estereótipos e confere ainda mais força ao cinema nacional com uma narrativa poderosa.

Cauby (Gustavo Machado) é um jovem fotógrafo que se muda para uma cidadezinha no interior do Pará e inicia um caso com Lavínia (Camila Pitanga), a esposa do pastor e ativista Ernani (Zecarlos Machado), militante em prol da população ribeirinha local que sofre com o desmatamento. Conforme o romance avança, cresce a tensão e a sensação de angústia em torno do futuro do casal.

Ao longo da narrativa não-linear, a história de Lavínia é contada a partir de duas frentes, em seu tempo atual, morando no Pará, e seu passado, ainda como prostituta perdida nas drogas, quando conhece Ernani. 


A Lavínia da belíssima Camila Pitanga não é somente uma mulher, mas várias e ela interpreta cada uma com uma força impressionante. Da prostituta viciada à esposa devotada, amargurada, inocente, insaciável, insegura, destrutiva. A atriz desempenha muito bem as facetas da personagem e apesar das fortes cenas de nudez e sexo que apresenta no filme, necessárias à trama, sua segurança na tela é incrível.  

É compreensível a confusão de Lavínia por causa da escolha entre o marido e o amante, afinal ambos a amam e lhe dão motivos diversos para retribuir o afeto. Aparentemente, ela não consegue viver sem um deles. Mas é interessante perceber a dualidade entre os dois personagens: enquanto o pastor Ernani é um homem mais velho e vive pregando palavras do livro do Apocalipse, Cauby compartilha a juventude e o espírito livre da moça e, em determinado momento, o filme relaciona a imagem dos amantes com a de Adão e Eva, sugerindo que o romance seria um recomeço para eles. 

No entanto, para cada um deles, a moça é vista através de um véu. Para Cauby, ela é a musa e a modelo perfeita que inspira seu trabalho fotográfico, já para Ernani ela é a alma perdida resgatada em nome de Deus. Mas quem é a verdadeira Lavínia? A única coisa que descobrimos dela ao longo de toda a história é que se interessa por fotografia. 

A falta de personalidade de Lavínia reforça sua posição de musa, tanto de Cauby como de Ernani, sendo diferente e aprazível a cada um, mas sem ambos ela simplesmente se encontra em uma situação de total desamparo.

O filme deixa lacunas, não nos conta exatamente tudo o que se passa na história e inicialmente pode soar confuso. Mas essas “puladas” na trama, assim como a cena inicial da mulher nua ou o encontro repentino de Cauby com o penitenciário nas ruas, nos deixam pensando e propondo soluções para o que nos foi sugerido, abrindo espaço para nossa própria imaginação nos dar as respostas faltantes. 


Para quem não leu o livro que deu origem ao filme, fica a vontade de correr para uma livraria e conferir a obra original de Aquino.


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