27 de jan. de 2012

Vs. The World - Além do que se pode ver

Posted by Natália Lins On 14:25 0 comentários

Tudo começou com o costumeiro amigo secreto de todo ano... Em uma noite, após tirarmos os nomes, resolvemos que desta vez o amigo secreto seria “literário”, afinal todas nós (grupo Quentin e mais algumas “agregadas”) somos amantes dos livros.

Desde o início deixei claro que queria uma HQ, mas não sabia se a minha amiga (afinal, éramos só mulheres) iria realmente me presentear com um. Chegou o dia da revelação e não deu outra, lá estava minha tão esperada História em Quadrinhos!

O livro era exatamente como eu queria, grande (23,5 x 31,5 cm) e belo. Fiquei encantada pela capa! Ao folhear o livro, gostei ainda mais. Os desenhos eram incríveis, pintados em aquarela compunham a paisagem que tanto me agradou, e a obra recebe o instigante título “Quando Eu Cresci”, que rapidamente remete a passagem da infância para a vida adulta, o amadurecimento.

Publicado no Brasil pela Editora Ática, responsável pelo lançamento de algumas adaptações literárias, este álbum marca a estreia do selo Agaquê. Consideradas umas das melhores HQs do Brasil em 2011, também marca um belo ingresso da Editora nesse ramo do mercado.

A imaginação é a grande responsável pelas aventuras que dão início à obra. Pepe, um garoto travesso e agitado, o que faz jus aos seus 11 anos, não cansa de tentar descobrir maneiras de deixar seu dia mais divertido e interessante. E foi num dia desses, em meio a estripolias, que ele é pego de surpresa por algo que estava em sua casa há tanto tempo: uma estátua da virgem de Montserrat com o menino Jesus que, inesperadamente, ganha vida.

Deslumbrado com o que acaba de presenciar, Pepe atravessa a parede atrás do ser misterioso que ganhara vida. Nesse momento tudo se transforma, ele descobre um mundo novo e fantástico, repleto de estranhas criaturas, que o conduz na árdua (e muitas vezes temida) tarefa de crescer e enfrentar seus medos. Um lugar onde chamar por sua mãe já não adianta mais e Pepe se vê inundado em lágrimas.

Escrita por Pierre Paquet com muita sutileza e baseada em metáforas, a obra descreve um universo de simbologia. O menino, muito assustado, se vê obrigado a criar coragem para enfrentar as mais diversas situações e lidar com os dilemas adultos, que permeiam entre a tristeza, a solidão, as consequências de suas decisões e a surpresa de experimentar algo grandioso como o amor.

Para dar “suporte” a essa linda história estão os ricos e fantásticos desenhos de Tony Sandoval. Ele foi capaz de ilustrar todos os detalhes, todas as expressões (e isso tem de sobra), além dos diversos enquadramentos. Através dos desenhos o leitor consegue imergir ainda mais na história.

Várias são as tentativas de sair de dentro da parede; diversas são as vezes que ele tenta quebrá-las com suas próprias mãos e outras até mesmo com sua cabeça. Ele se sentia perdido, sozinho em um mundo desconhecido. A fuga era sempre a válvula de escape quando ele se recusava a assumir a responsabilidade pelos seus atos.

A cada parede quebrada um mundo novo surgia a sua frente. Muitas vezes, preocupado em voltar para casa, não prestava a devida atenção nos detalhes ao seu redor. Quando se depara com determinadas situações, até então desconhecidas, ele prefere sair correndo ao invés de enfrentá-las, eis que surge o medo do “novo”, do “diferente”.

As pistas importantes sobre o verdadeiro sentido da história são distribuídas habilmente por Paquet desde o início, mas isso se torna mais perceptível quando lido pela segunda vez, a cada leitura é possível descobrir algo novo, um detalhe importante que não havia lhe chamado a atenção.

Como toda boa história, o ápice está nas últimas páginas, e lhe deixa boquiaberto, tamanha é a surpresa do desfecho. Somente quando essas páginas são lidas é que todo o resto passa a fazer mais sentido. As peças vão se encaixando e você começa a refletir em tudo aquilo que acabou de ler, e a segunda leitura é inevitável!

Um álbum extremamente sensível e bonito! O livro é também a prova de que a literatura nos quadrinhos é possível e que as HQs não são feitas apenas para entretenimento, elas podem carregar algo muito mais intrínseco do que parece.

Quem disse que HQ foi feita apenas para crianças?

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